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Publicado em dezembro 12th, 2017 | por Emmanuel Deodato

Imersão BG: Le Havre – desperte o estivador em você

Fala galera! Na nossa coluna de hoje (a última do ano, mas explico ao final) vamos nos encontrar em um dos maiores portos da Europa. Localizado em uma das cidades mais bonitas e historicamente relevantes da França: Le Havre. Vamos conhecer um pouco mais da história por trás desse jogão, do aclamado designer Uwe Rosenberg e lançado aqui pela Ludofy.

Nesta bela cidade vamos administrar o seu porto e construir estruturas importantes para o crescimento da cidade. Elas irão auxiliar nessa tarefa. Devemos gerir os recursos, controlando o volume de navios que entram e saem das nossas docas. Tudo isso montado ao melhor estilo Uwe Rosenberg: mecânica bem amarrada, ações interativas e pagamento de comida a cada rodada.

Um nome, uma cidade, um porto, um jogo: Le Havre

Vista atual do porto de Le Havre. Créditos CruiseMapper

Le Havre é uma comuna francesa, localizada atualmente na região administrativa da Alta Normandia. Fica situada na margem direita do estuário do rio Sena, no canal a sudoeste da área denominada Pays de Caux.

O porto de Le Havre é o segundo maior da França em extensão, atrás apenas do porto de Marseille, sendo o maior em capacidade de containers. A cidade fora fundada pelo Rei Francis I, em 1517. Mas, já existiam vestígios da presença humana na região por volta de 400.000 a.C.

A ideia do rei era criar um porto para proteção da costa francesa e facilitar o acesso à região. Por volta de 1540, o rei iniciou a estruturação da cidade, construindo escolas, a prefeitura e um hospital, entre outros pontos. Como veremos adiante, a cidade fora duramente atingida durante a Segunda Guerra Mundial. Sua reconstrução se tornou emblemática por diversos motivos.

O porto de Le Havre

Mais um dia normal no porto

A história do porto de Le Havre se faz tão antiga e interessante quanto da própria cidade. Se a cidade foi fundada em 1517, o porto recebeu seu primeiro navio apenas em 1518. O próprio Rei Francis I utilizou o porto no ano de 1520.

A função militar fora mais do que explorada: o porto se tornou um ponto de reunião para a frota francesa durante as guerras. Partiu desse porto o diplomata e oficial francês Villegagnon, que colonizou terras brasileiras. Aqui ele construiu o Forte Coligny, no interior da baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

Mas, não apenas de navios de ataque era feito este porto. Na época, muitos navios saíam para pescar bacalhau. Em 1525, uma forte tempestade atingiu a cidade, destruindo cerca de 28 navios no porto e aproximadamente cem pessoas morreram.

Com capacidade para receber todos os tamanhos de navios e cargas variadas, o porto é capaz de receber ainda, qualquer navio de cruzeiro.

Le Havre e sua destruição

Vista da cidade destruída. Créditos Unesco

A cidade sofreu um grande golpe durante a Primeira Guerra Mundial. Cerca de 6.000 pessoas morreram, além de inúmeros navios destruídos. Isso atrasou o seu progresso, gerando perturbações diversas. Com o despontar da Segunda Guerra Mundial, a cidade teve novamente seu destino interrompido.

Em 1940, as forças alemãs dominaram a cidade, causando um êxodo populacional. Sendo território inimigo, os Aliados partiram em diversos ataques para destronar o domínio alemão. Isso porque o porto é localizado em uma posição excepcional para o acesso à França e também à Normandia.

Le Havre sofreu 132 bombardeios, causando inúmeros danos à estrutura da cidade. Edifícios foram destruídos e navios afundaram, desconstruindo praticamente toda a sua formatação.

Créditos Skycrapper City

O pior desses bombardeios, ocorreu entre 5 e 6 de setembro de 1944, na Operação Astonia (também chamada de tempestade de ferro e fogo). Os resultados foram devastadores: cerca de 5.000 mortos, 80.000 feridos e estima-se que quase 90% da cidade tenha sido destruída.

Aproximadamente 350 navios afundaram próximos ao porto da cidade e os detritos da guerra impediram a utilização do porto. No último dia da Operação, o centro da cidade foi completamente destruído, reduzido a escombros.

Em 12 de setembro a cidade foi considerada fora do domínio alemão, mas pagando com um alto preço.

A reconstrução de Le Havre

A reconstrução de uma cidade em ruínas. Créditos Chemins de Memoire

Com o país lançado em destruição, o governo francês aprovou a criação de um Ministério de Reconstrução e Urbanismo para auxiliar as cidades afetadas. O governo de Le Havre queria lançar a cidade para a modernidade, dando uma nova identidade visual ao centro destruído.

Para acomodar os desabrigados e possibilitar a reconstrução de tudo que fora perdido, criaram moradias temporárias. Segundo dados da Unesco cerca de 35.000 pessoas foram realocadas nessas habitações. Esse processo durou por mais de 15 anos.

Na imagem é possível ver a extensão das moradias temporárias. Créditos Unesco

Em 1945 o Ministério de Reconstrução e Urbanismo confiou o projeto de reconstrução da cidade ao arquiteto Auguste Perret. Com a escassez de material e recursos, Perret utilizou-se de concreto e construções ortogonais. Inúmeros prédios da cidade foram projetados pelo próprio arquiteto, como a prefeitura, a bolsa de valores e algumas igrejas.

O uso do concreto e dos padrões ortogonais de Perret. Créditos Unesco

O porto da cidade passou por intensas reformas e sua reconstrução era parte crucial para a reestruturação da cidade. Incluíram diversos espaços verdes como jardins e parques, reformulando a ideia inicial do porto.

O porto sendo reconstruído. Créditos Unesco

Após a reconstrução, a cidade retomou seu crescimento. Com o porto revitalizado e uma nova identidade visual, a cidade passou a atrair novos investidores e moradores. Em 1991, Oscar Niemeyer construiu um dos pontos mais icônicos da cidade. Para fugir das formas retas e precisas, Niemeyer criou uma estrutura circular, sem quinas. Ali funcionam um teatro e um cinema de arte.

O vulcão de Niemeyer. Créditos FranceTv

Toda essa vontade, trabalho organizado e resultado tão eficiente e bonito, fez com que a Unesco colocasse Le Havre como Patrimônio da Humanidade.

Le Havre e o tabuleiro do jogo

Barcos, construções e produtos nesse incrível jogo. Créditos BoardGameGeek

A cada coluna nossa me vejo descobrindo uma história incrível e aqui não é diferente. A cidade possui uma atividade muito bem desenvolvida (portuária), mas sua história vai muito além.

Buscando essa inspiração, Uwe Rosenberg nos concede um jogo com temática presente, ações interativas e muita imersão. Temos o porto como objeto central do tabuleiro (que é dividido em três partes) e os navios marcam os turnos de cada jogador. Mas o jogo interage além de uma simples dinâmica portuária.

As construções existentes se relacionam com a construção da cidade. Vemos na mesa a cidade de Le Havre ganhar forma, com indústrias, igreja e prefeitura. As construções fornecem ações interessantes, necessárias.

Além disso, é possível controlar a entrada e saída dos navios (desde que você gaste alguns recursos para comprá-los). Cada navio oferece um bônus em alimentação e permite ao jogador exportar recursos, ganhando boas moedas nessas ações. Ou seja, todas as ações nos remetem a uma cidade sendo construída, com um porto importante e a economia girando neste porto.

Considerações finais – no final de cada rodada um suplício

Construções e construções. Créditos Ludofy

Apenas de olhar o tema do jogo já temos a clara noção de que o designer se desafiou. Em Le Havre existe a sensação de que Uwe Rosenberg construiu seu jogo olhando, observando, entendendo a construção daquela cidade. Tudo é bem amarrado.

As ações fornecem uma dose de imersão, com referências básicas às estruturas presentes em qualquer cidade portuária. Ver tudo isso crescer na mesa é muito bom.

Logicamente é um jogo com a clara assinatura do aclamado designer: temos mecânicas bem amarradas, muita estratégia, disputa por espaços e é claro pagamento de comida. Acredito que Uwe tenha tido algum problema enquanto crescia de não receber pagamento. Aposto que essa dívida era um café, ou um belo apfelstrudel. Brincadeiras a parte, Le Havre é um jogo incrível, com uma jogabilidade sólida, divertido e muito disputado. Tudo isso desenhado em um pano de fundo belo e histórico.

Uma cidade reduzida a escombros, reconstruída e reerguida para uma nova grandeza. Com um porto importante, com passagens históricas e de relevância econômica gigante. Le Havre é um exemplo de como das cinzas pode surgir algo novo, algo melhor.

Para os fortes, a referência

Imersão BG

Bom galera, encerramos mais uma coluna e espero que tenham gostado.

Na próxima semana teremos um episódio especial do Imersão BG, para fecharmos bem o ano!

Acompanhem, porque será diferente do habitual!

Abraços

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