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Publicado em março 13th, 2018 | por Emmanuel Deodato

Imersão BG: Twilight Struggle e a guerra dos bastidores

Fala galera! Em nosso caminhar de hoje iremos retratar de uma maneira dinâmica e já usual em nossa coluna os eventos que se passam em Twilight Struggle. Ele é um dos mais aclamados jogos de todos os tempos e foi lançado aqui pela Devir. Uma criação dos designers Ananda Gupta e Jason Matthews.

O tema do jogo é bastante direto e delineado: a Guerra Fria. Esse período histórico repleto de disputas estratégicas, poderio ideológico e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética.

Uma guerra travada sem ataques diretos entre as duas superpotências, guiada pela ânsia de controle e poder.

Já admito de antemão: não tem texto burocrático aqui, nada de “aulão” de história. Não é e nunca foi o cerne da coluna. Não existe nenhum objetivo político ou de polemizar (nada de anônimos enviando ataques, por favor).

Guerra Fria, ou a guerra mais quente de todas que nunca teve um ataque direto (isso sim é um título de respeito)

Twilight Struggle

Uma representação clara e pontual sobre a Guerra Fria. O brilho no final é um show do U2

A Guerra Fria foi um período político compreendido entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). Aqui se faz necessário um rápido adendo. Para alguns historiadores a Guerra Fria teria sido realmente iniciada no ano de 1947, quando a conhecida Doutrina Truman se tornou ativa.

O que podemos afirmar com clareza é que a bipolarização do mundo se iniciou no pós Segunda Guerra Mundial. Isso, enquanto as estruturas políticas e econômicas do mundo passavam por intensas transformações e críticas.

Pode-se dizer que foi um conflito não direto, de ordem política, em uma busca por afirmação mundial como superpotência. Aqui, se incluindo disputas estratégicas, intervenções ideológicas, conflitos indiretos e apoios funcionais.

Dentro desse período, ocorreram diversas disputas menores, compreendido o que se expôs. Como por exemplo, a Corrida Armamentista (quem conquistaria o maior arsenal nuclear?) e a Corrida Espacial (quem teria o primeiro jedi, quer dizer, quem iria atingir a maior expansão no espaço?).

Twilight Struggle

Mas qual a origem desse nome? Créditos Fatos Militares

 

Bem, a resposta para essa pergunta é bastante simples: é uma guerra “fria” pois não houve agressão direta entre as superpotências. Vocês sabem, com contato as coisas ficam mais quentes.

Além disso, essa nomenclatura foi utilizada pela primeira vez (para retratar uma guerra polarizada, de cunho majoritariamente ideológico, pois já utilizada anteriormente) pelo escritor inglês George Orwell, em um ensaio publicado em 1945.

Posteriormente, Bernard Baruch (conselheiro político norte-americano) utilizou a expressão para retratar diretamente o conflito em um discurso no ano de 1947.

Começo da conflagração invernal. Pacto eu, pacto você

Twilight Struggle

Aquela bela sensação do Plano Marshall em sua mão quando você joga com os EUA

 

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o cenário se mostrou caótico: a Europa estava destruída. Mais do que abalada fisicamente, o continente se via em uma soma de baixa moral e finanças desajustadas. Com cidades inteiras transformadas em escombros e estruturas públicas destruídas.

Essa tela possibilitou que as grandes potências vencedoras (EUA e URSS) se isolassem em força e estrutura. Isso tornou o mundo daquele momento, bipolar: dividido entre dois grandes pólos.

Enquanto o lado americano exaltava os seus valores, os soviéticos respondiam com seus ideais. Como concentradores do poder à época, o cenário era de um debate global por uma afirmação final. Ou seja, tudo bem ao estilo Highlander de ser: só poderá existir um.

Objetivando angariar aliados e apoiadores diante da fragilidade econômica europeia, os EUA lançaram o chamado Plano Marshall. Tratava-se da concessão de uma série de empréstimos com juros baixos e investimentos públicos para auxiliar no cenário pós-guerra. Aqui aponta-se, principalmente nos primeiros anos da Guerra Fria, o alto investimento norte-americano na Reino Unido, França e Alemanha Ocidental.

Em resposta a esse plano econômico, a União Soviética propôs auxílio econômico aos seus aliados, através do plano conhecido como COMECON.

Observando a necessidade do fortalecimento das relações para uma possível guerra vindoura, os EUA juntamente com o Canadá e seus aliados europeus criaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar com o objetivo de proteção.

A resposta soviética tardou, mas veio no formato do Pacto de Varsóvia, para unir as forças militares dos países aliados à nação russa.

Toda essa tensão se acresceu à corrida armamentista, tornando o cenário estático e perigoso. A sensação de que a qualquer momento uma guerra poderia acontecer era elevada.

Corrida armamentista, ideológica e espacial

 

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A tensão que sempre permeou a Guerra Fria

Terminada a Segunda Guerra Mundial, as duas superpotências já contavam com um arsenal militar invejável. Tanques, aviões e navios mais modernos e eficientes, e mísseis balísticos de maior alcance e precisão. Além dessas armas convencionais, ainda existiam armas químicas e o início da pesquisa em armas biológicas.

Porém, o grande destaque era a maior de todas as bombas, uma tecnologia até então exclusiva dos norte-americanos: a bomba atômica.

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Essa tecnologia tão inovadora era um problema para os soviéticos, pois desequilibrava exponencialmente a guerra para o lado americano. Se houvesse a necessidade de iniciar uma guerra direta essa arma seria decisiva.

Com esse pensamento, a União Soviética iniciou seu programa de pesquisas para alcançar a produção de bombas dessa natureza. Isso foi alcançado em 1949.

Como resposta, os Estados Unidos iniciaram os testes com sua bomba de hidrogênio. Ela era centenas de vezes mais destrutiva que a bomba anterior. Essa tecnologia gerou uma nova corrida, alcançada pela União Soviética apenas em 1953.

Essa corrida armamentista atingiu seu ápice durante a década de 1960. Na época os EUA e a URSS possuíam armas nucleares suficientes para combater qualquer outro país no mundo. Uma guerra entre os dois causaria uma guerra inimaginavelmente destrutiva.

Mas não apenas no campo dos armamentos a disputa entre as duas superpotências tomou forma. No campo ideológico esse embate também era intenso.

Cada país concentrava sua propaganda política para desacreditar o rival e convencer ao mundo que seu sistema era o melhor.

 

A corrida espacial

Ainda, é possível apontar uma terceira corrida importantíssima: a corrida espacial. Engana-se quem pensa que tudo começou para explorar o espaço sideral. A ideia inicial era criar armamentos que pudessem orbitar o planeta e oferecer segurança contra um ataque de mísseis (satélites).

A partir daí, cada nova conquista do rival inflamava e provocava uma reação de busca por algo ainda não atingido. Gagarin foi o primeiro a ver a Terra e voltar são e salvo do espaço. A cada missão espacial, era necessário reforçar o apoio da opinião pública.

Nada melhor do que oferecer o intocável: a Lua. Com suas missões Zond, a URSS tentou alcançar a glória máxima, mas acabou assistindo a missão Apollo 11 desembarcar primeiro.

Crises, guerras e o fim de tudo: a Guerra que terminou fria

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Esse jogo consegue simular o desespero da Guerra Fria

Dentro do cenário de uma “guerra fria”, mesmo que as duas superpotências em disputa não tenham entrado em confronto direto, não significa que outros países aliados não tenham passado por problemas.

Durante o período da Guerra Fria, várias crises e guerras eclodiram ao redor do mundo e, necessitaram da atuação pontual dos desafiantes.

Podemos citar por exemplo, a Revolução Húngara, em que o exército soviético executou uma intensa ação contra os revolucionários. A Guerra de Suez, em que França, Reino Unido e Israel invadiram o Egito, sendo dissuadidos pela pressão dos EUA e da URSS. A Crise dos Mísseis de Cuba, uma espécie de demonstração da capacidade de cada superpotência que acabou sendo resolvida de forma diplomática. E a Guerra do Vietnã, que após mais de 13 anos de guerra os EUA se retiraram derrotados do Vietnã e reformularam sua política externa junto ao Oriente.

Além dessa enormidade de eventos, a Crise dos Mísseis de Cuba acabou por gerar uma situação conhecida por Distensão. A Distensão foi a busca de acordos entre as duas superpotências para evitar uma guerra nuclear. Como a Crise dos Mísseis de Cuba gerou a proximidade do ponto máximo, os dois países entenderam a necessidade de evitar tal destruição. Ou pelo menos até Ronald Reagan se tornar presidente em 1981 e abdicar de tal política.

Desse ponto em diante a guerra ideológica e por influência aumentou exponencialmente.

A guerra ainda mais fria

A URSS passava por uma grande fragilidade desde os anos 70, evidenciada em sua crise econômica e na baixa produtividade dos trabalhadores. O sistema econômico soviético não conseguia acompanhar os gastos militares com proximidade aos demais gastos necessários.

Frente a isso, o novo comandante do país Mikhail Gorbachev, aplicou dois planos muito conhecidos na escola. A glasnost e a perestroika. Em resumo, a URSS passou a investir menos no campo militar e retirou-se a forte censura que havia.

Esse “afrouxamento” foi sentido nos países aliados e, pouco a pouco, foram se tornando mais abertos à influência do Ocidente.

Tal situação culminou com a famosa queda do muro de Berlim, em 1989. Ponto que para muitos representou o fim da Guerra Fria. Por fim, após eleições independentes em diversos países aliados, Gorbachev renunciou ao cargo de presidente, em 1991 e o governo russo tomou o lugar da URSS. Era o fim dessa Guerra que mexeu com o mundo por mais de 45 anos.

Twilight Struggle: brilhante do começo ao fim

Twilight Struggle

O belo mapa do jogo. Para licenças de jogatinas, o Canadá é Europeu. Créditos GMT Games

Twilight Struggle é um jogo no qual a palavra imersão vai além. Além do simples pano de fundo e da roupagem, além de conter referências, além de ser superficial.

Aqui, o tema é o jogo e se vê retratado em tudo que é possível. As cartas possuem eventos históricos ocorridos ao longo da Guerra Fria. Os mais marcantes ocorrem apenas uma vez no jogo (não se repetem na história, não se repetem no jogo).

O contador de turnos trás imagens dos presidentes de ambas as nações que influenciaram cada momento dessa guerra.

As mecânicas são integradas com a história da Guerra Fria. É preciso ter um mínimo de operações militares em cada turno para não perder pontos. Mesmo não havendo confronto direto, a guerra se baseava em dominação, influência e poderio ideológico.

Twilight Struggle

Até o nome do jogo é temático, inspirado no discurso emblemático de Kennedy

O DEFCON está ali, presente, assombrando os jogadores assim como assombrou o mundo. DEFCON é um alerta criado pelas Forças Armadas dos EUA, indo de 5 (sem qualquer preparo específico) até 1 (preparo máximo para uma guerra nuclear). O DEFCON mundial mais baixo fora nível 3 (na Guerra do Yom Kippur) e a nacional fora nível 2 (durante a Crise dos Mísseis de Cuba).

A forma de utilização das cartas do adversário cria um clima de tensão e dificuldade. Como minimizar os danos do adversário? Como utilizar determinada carta sem prejudicar toda a sua ação?

As cartas, além de tudo possuem um sistema de correlação histórica e mecânica incrível. Você só poderá utilizar determinado evento se outro evento gatilho já ocorreu. Ou, eventos novos cessam o efeito de eventos antigos.

Considerações finais: Twilight Struggle é incrível

 

Twilight Struggle

A Carta da China. Um equilíbrio histórico e necessário ao jogo. Créditos GMT Games

Caso não tenha ficado claro, Twilight Struggle é um dos meus jogos favoritos. Não apenas por ser um board game excelente, com mecânicas bem estruturadas e um dinamismo incrível na mesa. Mas, por conseguir recriar em eventos e, em sensações, tudo que se passou na Guerra Fria. Os designers escolheram um tema e não colocaram apenas como pano de fundo, mas tornaram ele tátil, jogável.

Saber a forma de jogar a carta certa, no momento certo, é uma característica fundamental aqui. Não queira jogar a carta Jogos de Guerra e vencer sua patroa no Fim da Guerra com apenas 1 ponto. Te garanto: não será algo feliz (para ela).

É incrível a forma como o jogo te deixa tenso, irritado, ansioso, com medo e tudo. Isso tudo é condensado enquanto pensa a próxima ação. É um clássico obrigatório de ser jogado. Que sua fama dure por muito mais tempo do que a Guerra Fria durou.

Imersão BG

Espero que tenham gostado do texto de hoje, da coluna Imersão BG. Antes de tudo, preciso agradecer a todos que votaram no Tábula Quadrada e nos fizeram levantar o prêmio de Melhor Mídia Escrita no Prêmio Ludopedia. É uma honra poder contribuir um pouco com esse grande canal! Que possamos ter muitas outras colunas ao longo do tempo.

Na próxima semana aguardo vocês aqui novamente, para criarmos vitrais na Espanha. Até lá!

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