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Publicado em abril 10th, 2018 | por Emmanuel Deodato

Imersão BG: Azul, azulejos e história

Achou que o grande símbolo português era o Roberto Leal? Pensou que nas páginas do Imersão BG já falamos de tudo que era possível? Achou errado otário.

O grande símbolo português é o Azul, quer dizer, o azulejo. Um jogo do aclamado designer que já fez jogo sobre tudo o que é possível. De tribo indígena que caça bisão, passando por exploração de montanhas, Michael Kiesling. Azul está chegando aqui pela Galápagos Jogos.

Você pode se perguntar: mas vai fazer imersão de abstrato? Se o jogo não oferta uma imersão, aqui nós vamos até ela! Venha conhecer a história desse símbolo português. Como surgiu, como se tornou tão emblemático na cultura lusitana e como ele se encaixa (muitas piadinhas de azulejo ainda estão por aparecer aqui) dentro desse jogo que é sucesso.

Azul e azulejos: origem desse aclamado objeto

Azul

Azulejaria em Portugal é uma arte. Créditos Lisbonee

A primeira imagem da nossa coluna já serve para desmistificar um ponto importante. Esqueça a simplicidade do azulejo azul e branco. Azulejaria em Portugal se tornou uma forma de contar histórias, retratar cenas e imprimir impressões.

A “abstração” do azulejo fora remodelada para fornecer em verdade, uma arte detalhada, sutil e bastante rica.

O azulejo, apesar de ter se difundido em Portugal e na península Ibérica, é de origem árabe. Inclusive, a palavra tem origem no termo árabe azzelij (pequena pedra polida). O termo era utilizado para denominar os mosaicos bizantinos.

As primeiras utilizações do azulejo remonta ao Antigo Egito e à região da Mesopotâmia. Difundindo-se juntamente da expansão islâmica pelo norte da África e zona do Mediterrâneo europeu, adentrou à península Ibérica no Século XIV, tendo sido levado pelos mouros.

A chegada de um símbolo à Portugal

Azul

Retábulo de Nossa Senhora da Vida azulejaria que sobreviveu ao grande terremoto. Créditos Dapatadamoscaaouivodolobo

Mesmo estando aos arredores do mundo português, o azulejo só foi ser notoriamente conhecido após 1498. Na época, o rei D. Manuel I visita Sevilha na Espanha (para alguns a visita se deu ao complexo palaciano de Alhambra) e se encanta com a variedade das obras e a forma de ornamentar com azulejos.

Assim, uma grande encomenda é realizada. A azulejaria de Sevilha é amplamente difundida em Portugal, principalmente no Palácio Nacional de Sintra. Aqui não existe ainda a fabricação. Não existe uma azulejaria portuguesa, mas apenas a importação constante de azulejos.

Com as técnicas iniciais advindas dessa importação, o azulejo começa a cair no gosto dos portugueses. Assim, oficinas de olaria começaram a surgir oferecendo trabalhos originais e distintos.

Ainda se fazia a importação de diversos azulejos, inclusive de tipos diferentes. Nesse mesmo período chega à Portugal os azulejos de caixilho, composição de xadrez.

Nessa toada de importações, Portugal buscou na Itália não apenas peças. Aí veio talvez uma das técnicas que diferenciaria seus azulejos: a majólica. Ela permite aos artistas pintarem diretamente no azulejo vidrado. Isso acabou por ser proeminente nessa cultura portuguesa (surgindo aqui principalmente o uso intenso da cor azul).

A azulejaria portuguesa se fortalece

Azul

Não sei se é o tabuleiro do jogo ou uma parede. Créditos GetLisbon

Essa nova técnica permitiu uma expansão não apenas em quantidade, mas em qualidade dos azulejos portugueses. Por volta do Século XVII, aconteceu o aumento da produção nacional de azulejos. O que fez com que Lisboa se tornasse a grande referência nacional. Era o maior centro cerâmico do país.

Nessa época consolidou-se o azul e o laranja como cores presentes na azulejaria portuguesa, com inspirações variadas.

Na segunda metade do Século XVII, houve uma renovação temática, com a presença do gênero artístico barroco. Os azulejos muitas vezes representavam críticas sociais, ou cenas do cotidiano. Nesse período, a paleta de cores se torna mais variada com adição do verde e do manganês.

No começo do Século XVIII, com a importação de azulejos holandeses com gravuras históricas, a arte dá um novo salto. Agora, a pintura de azulejo se torna uma arte dos mestres pintores, o que aumentou a qualidade das obras. A volta do azul como cor central em cenários históricos, gravuras mais rebuscadas e cenas de batalhas. A azulejaria portuguesa atinge um novo estágio de produção.

Azul

Quem nunca bateu o pé com esse ícone português?

Passando pelo grande terremoto (que você leu aqui no tópico do Lisboa), pela azulejaria pombalina, estilo rococó, romantismo e até nacionalismo, o azulejo se fortaleceu como objeto decorativo, mas principalmente, como forma artística.

Tipos, técnicas e o além-mar

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E você achando que tudo se resumia em azulejo de cozinha. Créditos DiscoverBaroqueArt

Mas então o pá, meu caro, são os tipos e técnicas diferentes deste pequeno pedaço de cerâmica? E a resposta meu caro alfacinha é: sim!

Por tipo de produção podemos citar o mourisco (aquele que iniciou tudo), o alicatado (semelhante a um mosaico), o corda-seca (faz-se os sulcos nos azulejos com uma corda), a aresta (ou cuenca, parecido com o anterior), a majólica (técnica de pintura vinda da Itália e que difundiu a arte) e a semi-industrial (como a estampagem das peças).

Ainda é possível separar os azulejos em técnicas de decoração e temática, mas vamos encaixando outras ideias.

A azulejaria portuguesa se tornou tão emblemática que acabou por viajar mundo afora. No Brasil encontramos em muitos lugares. Em Salvador na Bahia temos a Ordem Terceira de São Francisco de Salvador e o Colégio 2 de Julho. No Rio de Janeiro a Igreja do Outeiro da Glória. O próprio palácio de Windsor na Inglaterra, possui exemplares desse símbolo português.

O azulejo é, portanto, sem qualquer dúvida, uma das mais importantes, marcantes e perseverantes formas da cultura portuguesa. Traduzindo-se não apenas na situação material da decoração, mas também como forma de arte, de exposição do pensamento e dos sentimentos de cada época.

Não nasceu em Portugal, mas com certeza foi elevado a outro nível pela qualidade e trabalho dos artistas lusos.

Azul e a imersão de azulejo

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Beleza, simplicidade e azulejos. Créditos PlanBGames

Antes de qualquer comentário do tipo “imersão de azulejo é coisa do quiabo”, eu lhe digo: aqui não queridinha!

Nossa coluna vai além do convencional, busca a história não dos jogos (dizem que alguns designers têm sua epifania durante o uso do trono), mas dos temas que inspiraram seus criadores.

Em Azul não é diferente. Por mais que seja abstrato (um belo exemplar por sinal), o azulejo não foi inventado pelo grande Michael Kiesling.

Essa rápida pincelada histórica fornece um momento ímpar na jogatina. Em que você poderá dizer: sabia que o “azulejo português” não foi inventado pelos portugueses? Imagine a cara de desespero da sua avó, o choro da sua tia e a alegria do seu pai sabendo que você leu algo.

Os azulejos formam uma parte rica, bonita e bastante peculiar da história portuguesa. Entendo perfeitamente os motivos dessa homenagem no jogo.

Você não vai se sentir como um artista português famoso criando um mural de azulejos. Nem vai se sentir um azulejo (apesar de alguns pensamentos quadrados). Mas, vai conseguir imaginar e perceber toda a beleza contida nessa história.

Considerações finais: e esse amor é azul, como o jogo Azul

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Azul repleto de belezas, piadas e trocadilhos infames. Créditos WhoseMove?

Azul, logo mais sendo vendido pela Galápagos Jogos, é um daqueles jogos que você se pega pensando: definição de clássico? Abstrato, complexo, bonito, dinâmico. Elegante em sua definição. É um jogo incrível, impossível de jogar apenas uma partida por vez, deixando sempre aquela revanche, aquele querer logo em seguida.

Não se engane: o jogo não é bobo e extremamente punitivo com os incautos. Sua patroa vai ficar bastante revoltada quando você comprar o azulejo que ela queria. E mais revoltada ainda quando você força ela a jogar vários azulejos no piso, perdendo inúmeros pontos.

É um jogo obrigatório na coleção. Daqueles que você vai jogar com seus pais, amigos, viciados no hobby, novatos, amante de abstratos ou simplesmente com qualquer pessoa que queira passar um tempo divertido.

Imersão BG

Mais uma coluna chega ao fim e na próxima semana vamos dar um pulo até a Índia, conhecer e entender um pouco mais sobre rolagem de dados por lá.

Abraços a todos!

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