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Publicado em outubro 19th, 2016 | por Rafa Almeida

Conheça Mouse Guard, um RPG pra quem tem coragem

Antes de tudo, acho que vamos provar com esta resenha que tamanho, definitivamente, não é documento. Mouse Guard foi lançado originalmente em 2009 e apaixonou a todos que curtem RPG com um sistema bem simples e totalmente voltado para interpretação de personagens. Não sou eu que estou dizendo isso. Esses ratinhos levaram três medalhas de prata: o ENies, Indie RPG Awards e o prêmio Origins de melhor RPG no ano de seu lançamento.

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Uma imagem da última box set do game

Mouse Guard é um RPG baseado nos quadrinhos de David Petersen que foram no Brasil foram chamados de “Pequenos Guardiões” e lançados em seis volumes, agora raros no mercado brasileiro. Nessas HQ’s, os protagonistas e heróis são Liam, Saxon, Sadie e Kenzie, quatro bravos e honrados ratinhos que fazem parte da Guarda, uma instituição militar criada para defender os reinos de predadores, eventos climáticos e outros problemas.

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Capa da primeira edição nacional do quadrinho

A Guarda é o alicerce moral de toda sociedade. Seus membros valorosos enfrentam o perigo com honra e coragem, portando apenas armadura e armas. Existe toda uma sociedade medieval em Mouse Guard e, ao contrário de uma grande maioria de jogos de fantasia, não há magia neste universo. O mais legal é que não é necessário ler os quadrinhos para entender a ambientação do jogo, pois os criadores deixam claro que o mundo é totalmente livre, sendo que mestre e jogadores podem o criar como quiserem.

Mouse Guard, trata de heroísmo, amizade, honra e o dever de se dedicar a um bem maior. Todos os personagens obrigatoriamente servem à guarda. Existem cinco possibilidades de patentes que os jogadores podem escolher na hora da criação, iniciando por aspirante e podendo, inclusive, ser o capitão da guarda. Cada patente ou posição na guarda tem suas vantagens, desvantagens e maneiras de interpretação, incluindo deveres e responsabilidades diferentes que devem ser cumpridas.

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David Petersen manda bem demais nas suas ilustrações

Como não há magia, os heróis usam apenas sua criatividade, inteligência, perícias e equipamentos para vencer os desafios. Outra particularidade é que não há tendências a serem seguidas, os jogadores são livres para agir como quiserem, porém há um código de honra e dever que todos respeitam, ou deveriam respeitar, na Guarda. Nessa sociedade não há humanos, apenas ratos e doninhas com super tecnologia medieval, equiparando-se aos gnomos inventores em Dungeons & Dragons.

A vida na guarda não é fácil e todos os personagens vivem ao redor de uma trindade específica que enfeita o sistema: Crença, Metas e Instintos.

As Crenças definem como o rato encara a vida e que personalidade vai ter durante o jogo. As Metas são os objetivos pessoais que os jogadores definem após receberem suas missões. Por exemplo, se uma missão é acompanhar um rato nobre em uma caravana, os ratos designados da guarda para essa missão podem ter um objetivo pessoal durante essa viagem, como proteger o nobre a todo custo, evitar que aspirantes sejam feridos ou impedir que sejam rastreados, entre outros.

Já os instintos seriam os “defeitos” dos personagens: ações impulsivas ou manias que eles não conseguem evitar. Exemplificando isso, podemos ter um rato que sempre se distrai e acaba assobiando, o que pode atrair inimigos, ou algum ratinho mais bravo que acha que sempre precisa sacar sua arma para resolver os problemas, dependendo da situação pode pôr o grupo em perigo. Resumindo, é mais um desafio de interpretação e ações que podem trazer dificuldades e precisam ser controladas durante a missão.

Este sistema utiliza apenas dados de seis faces (D6) e oferece uma maneira bem simples para a resolução de ações que é usada a todo momento. No dado os resultados: quatro, cinco e seis são sucessos, enquanto de um, dois e três são fracassos. No jogo há dois tipos de testes: Independentes e Versus. Os testes independentes são para ações solo, como por exemplo, saltar uma valeta ou escalar uma árvore. Já nos testes de versus, existem comparação de testes, como um cabo de guerra em que dois ratos iriam testar sua força ou em um duelo.

O sistema de resolução gira em torno de conflitos que podem ser embates físicos ou sociais, como um duelo de interesse em um palácio ou uma batalha de vida ou morte contra as doninhas ou ratos traidores. Independente do conflito, a resolução será sempre a mesma.

Geralmente são separados agrupamentos de até três jogadores ou NPC’s e é necessário uma cooperação e entrosamento incrível, pois todos deverão escolher suas ações previamente. Dentre as ações possíveis, os jogadores podem: atacar, movimentar, fintar ou defender.

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Ilustração comemorativa da edição do RPG na Italia

Assim que os jogadores escolherem suas ações, o mestre escolhe as ações dos oponentes. Em seguida todos lançam um D6 e somam com sua habilidade chave para o tipo específico de conflito. Essa disposição seriam os “pontos de vida”, pois se alguma disposição chegar a zero, o rato sofre alguns efeitos colaterais, como ficar com raiva, sedento, esfomeado, doente ou machucado, entre outros. Portanto, sendo assim não existem pontos de vida e assim que uma disposição chegar a zero, o outro lado é o vencedor e,  inclusive, pode impor alguma condição para o lado perdedor para continuar bem a história. Com isso, sempre existe uma continuidade fluida após os conflitos.

Mouse Guard beneficia e praticamente exige um completo trabalho em equipe, já que não se pode mudar as ações depois de escolhidas, portanto quando o alvo é apenas um contra os três ratinhos do grupo, um combate ou embate social torna-se extremamente tático. Um personagem pode sempre ajudar outro, concedendo dados extras ou beneficiando-o com alguma bonificação, desde que se narre perfeitamente como isso será feito, pois, como eu disse, nesse sistema a interpretação é não apenas valorizada, é exigida.

Outro ponto importante é a evolução dos personagens, visto que não existe sistema de premiação de pontos de experiência (XP), o método utilizado é o de acertos e falhas.

Uma aptidão e habilidade possui dois marcadores ao lado de seu valor numérico que são nomeadas de S e F (Sucesso/Falha). A taxa de Passou/Falhou define se aquele atributo irá subir ou não durante a aventura. Cada jogador deve anotar quantas vezes passou ou falhou em um teste daquela categoria. Se ele conseguiu passar um número de vezes igual ao seu valor atual e falhou uma quantidade de vezes igual ao valor atual menos um, aquela aptidão ou habilidade sobe em um ponto. A única exceção é quando se tem o valor zero ou um, que define que apenas um teste bem-sucedido permite evoluí-la ao próximo nível. Um detalhe: após conseguir evoluir, apaga-se a quantidade de sucessos e falhas a fim de começar a contar tudo de novo.

Por exemplo: se um personagem tem o ofício ferreiro de valor três em sua ficha, ele precisa de três sucessos e duas falhas para conseguir aumentar esse atributo de três para quatro. Isso é sempre comparado no final da aventura, sendo assim, o jogador deve estar sempre atento, anotando o número de testes que fez em determinada categoria, e se obteve uma falha ou sucesso. Geralmente uma campanha de Mouse Guard conta com oito aventuras (duas por estação do ano), mas claro que é uma recomendação, podem ter mais ou menos aventuras.

Mouse Guard é uma obra de arte. O sistema visa facilitar para novos jogadores, assim como faz veteranos se deliciarem contando histórias e interpretando os códigos de honra da Guarda. As mecânicas são extremamente simples e de fácil aprendizado. Os personagens são muito singulares, visto que durante a criação, em etapas, cada detalhe é escolhido pelos jogadores, definindo história, patente na Guarda, inimigos, amigos e tudo isso.

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“Não importa com o que você luta, mas pelo que você luta.”

O jogo ainda não tem lançamento no Brasil, mas existem materiais em inglês disponíveis na internet para download e um fórum onde jogadores discutem modos de tornar o jogo mais interessante. Lá também são compartilhados materiais como fichas de personagens, fichas de resumo com as ações e condições, além de muitos outros conteúdos.

Eu particularmente adoro os “Pequenos Guardiões” e sempre me lembro de Ripchip, o Ratinho mais bravo e honrado de Narnia. É um sistema maravilhoso. As artes são assinadas pelo co-autor e criador dos quadrinhos David Petersen. Portanto, vale muito a pena não apenas ter na estante, mas jogar bastante. Recomendo também para crianças, visto que o ambiente é bem suscetível para que eles gostem: ratinhos guerreiros lutando contra os predadores e eventos climáticos de forma heróica e honrada. Haha!

Visitem o site http://www.mouseguard.net/ e conheçam melhor a arte, aventuras e o sistema.

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Um sucesso decisivo a todos e um ótimo jogo!

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