Publicado em novembro 28th, 2017 | por Emmanuel Deodato
Imersão BG: vinhos e tensão em Viticulture – Edição Essencial
Fala galera! Na nossa coluna de hoje vamos viajar para a belíssima região da Toscana, na Itália. E não podendo ser diferente, vamos conhecer um pouco sobre a produção de vinhos nesse jogo incrível. Entre nessa ciência das uvas em Viticulture – Edição Essencial, dos designers Morten Monrad Pedersen, Jamey Stegmaier e Alan Stone, lançado neste ano pela Ludofy Creative.
Neste cenário, bucólico e alcóolico, vamos descobrir a dificuldade em gerir uma vinícola. São diversos tipos de uvas, vários vinhos a serem feitos e incontáveis visitantes que aparecem com efeitos surpreendentes. Sem contar a belíssima arte do jogo, que deixa tudo muito natural, belo, orgânico. Essa é a atração e a tensão criada por Viticulture.
Um nome e uma confusão: Viticultura
O título não poderia ser outro, afinal, Viticultura não é a arte de fazer vinhos. Sim, eu sei que o seu mundo caiu. Na verdade, o termo Viticultura refere-se à ciência, produção e estudo das uvas. É um ramo da horticultura. A arte de fazer vinhos é a chamada vinicultura.
Ótimo, bola fora do Jamey e seus amigos? Não necessariamente. O Viticultor (ou Viticultora) cuida de toda a produção envolvendo as uvas – solo, plantio, maturação, colheita. Ele é o responsável por entregar ao vinicultor a uva perfeita para gerar aquele Pinot Noir que você tanto gosta.
O jogo, logicamente, possui uma imersão mais ampla,até porque ninguém gostaria de ficar cuidando apenas de uvas. Ele te coloca na administração geral de uma Vinícola, encarregado não apenas da análise das uvas, mas dos campos, dos trabalhadores, da produção e da entrega dos vinhos.
Conhecendo um pouco sobre a Viticultura
A cena mais clássica da internet moderna nos revela muito (cuidado com fios elétricos): existem diversos tipos de uvas. Essa é uma das dificuldades para um viticultor, escolher o tipo exato de uva para aquele clima, terreno e qualidades do solo. Se existem milhares de tipos de uvas, é preciso saber quais os melhores terrenos para determinada casta, qual o clima ideal para cada uma.
A viticultura é uma das tarefas mais antigas da civilização, com evidências que indicam que até 4.000 A.C. já era bem desenvolvida. Não obstante, os gregos e romanos e a era medieval colocaram a viticultura (e o consumo de vinho) em um novo patamar de relevância cultural e social. Essa ascensão possibilitou a expansão do cultivo das uvas para diversos locais do planeta.
Na mitologia grega (e posteriormente romana) Dionísio foi o criador da parreira, que rendeu a fruta, a uva e, dessa fruta ele fez nascer o vinho. Essa criação foi tão impactante que Dionísio se tornou Deus (na cultura romana, Baco).
Toscana – a região do jogo
A edição lançada no Brasil do jogo, chamada de Edição Essencial, nos remete à região da Toscana como pano de fundo para nossa vinícola. Possui um solo denominado Galestro que propicia o crescimento e qualidade de determinadas uvas (conforme veremos à frente).
A capital da região é Florença e apenas por esse dado já é possível imaginar a beleza do lugar. Possui áreas de planícies verdes, plantações incontáveis de Girassóis e diversos terrenos montanhosos. E isso é ótimo para nossa atividade.
A Toscana é considerada o berço do renascentismo italiano, com diversos monumentos tombados como patrimônio do mundo. Ela teve um grande avanço cultural e artístico durante o controle da família Medici. Incluia aí, o mais famoso de todos, Lorenzo de Medici.
É uma região de história vasta e marcada por obras de arte dos mais renomados artistas do mundo, entre Leonardo Da Vinci e Michelangelo. Tudo isso regado a produção histórica de uvas e vinhos.
Na região, o principal vinho produzido e reconhecido mundialmente, é o Chianti. Mas pode-se apontar ainda o Vino Nobile de Montepulciano e o Brunello di Montalcino (para muitos, um dos melhores vinhos italianos).
O ciclo da uva
Escrever o Imersão BG me possibilita conhecer não apenas os temas e aprofundar nos jogos, mas entender o motivo de diversas escolhas do designer. E aqui ocorreu algo similar.
As uvas possuem ciclos delimitados. O brotar na primavera, seguido pelo florescer e aparecimento de frutos ao final da primavera e começo do verão. Após essa etapa, ocorre a chamada Veraison, que significa a mudança de cor da uva, uma situação que demonstra o amadurecimento da uva e o seus ganhos de qualidade.
No outono tem-se o cair das folhas da parreira, culminando com a dormência do inverno. Essas etapas são acompanhadas de perto pelo viticultor, garantindo máxima eficiência de cada uma. Isso resulta posteriormente (no nosso caso) em vinhos de melhor qualidade.
Esse ciclo da uva é acompanhado pelo jogo, quase como uma homenagem dos designers. Na primavera nossos trabalhadores acordam. No verão trabalham para o crescimento da vinícola. No outono temos uma época intermediária, para finalizarmos tudo no inverno.
A produção de vinho
A produção de vinhos envolve inúmeras etapas, todas acompanhadas de perto pelo vinicultor. Mas, em resumo podemos explicar a produção da seguinte forma: colheita, esmagamento, prensagem, fermentação, trasfega, clarificação, amadurecimento e engarrafamento.
É fácil perceber que a cadeia para produzir um vinho não é simples e depende de inúmeros atos e fatores. Após a colheita e o esmagamento (isso, aquele feito com os pés mais feios do mundo) o mosto é prensado para separar as cascas e sementes do suco de uva. Essa etapa é apenas para o vinhos brancos, os demais vinhos fermentam com suas cascas, gerando sabor e cor.
Tendo o vinho fermentado da maneira correta ele é transferido para recipientes limpos (trasfega) e sofrerá as adaptações químicas necessárias. Por final, ele descansa e amadurece (em tanques de aço ou barris de madeira) para ser engarrafado e valer pontos de vitória.
Vinhos, uvas e o tabuleiro do jogo
Imaginar um jogo baseado nas atividades relacionadas à produção de vinhos e conseguir deixá-lo temático e ao mesmo tempo divertido não é uma tarefa simples. Mas no tabuleiro e nas cartas de Viticulture – Edição Essencial, temos vários pontos de sucesso.
Começando pelas uvas. Todas as variedades de uvas presentes no jogo são encontradas na região da Toscana: Sangiovese, Malvasia, Pinot Noir, Syrah, Trebbiano, Merlot, Sauvignon Blanc, Cabernet Sauvignon e Chardonnay. Estima-se que a produção de Cabernet Sauvignon ocorra há mais de 250 anos.
Os vinhos citados acima como representantes da região são compostos por essas uvas que utilizamos no jogo. O Chianti é feito basicamente com Sangiovese. O Brunello di Montalcino tem como base a Sangiovese, mas é amadurecido de forma diferente na região.
Assim, as ações de plantar as uvas e de produzir os vinhos são diretamente ligadas à região da Toscana de forma real.
Além disso, as maiores vinícolas possibilitam a vinda de visitantes, gerando renda extra, advinda do turismo. No jogo os visitantes fornecem condições a mais para facilitar a nossa vida. Tudo isso ligado por uma arte fluida, pincelada, quase como uma tela, refletindo toda a sensação bucólica da região e da atividade.
Considerações Finais: Viticulture e a sensação de dever realizado
Nesse jogo, assim como em outros da batuta de Jamey Stegmaier, temos a sensação de que tudo se encaixa e combina perfeitamente. As ações são temáticas, dinâmicas e funcionais: alocação de trabalhadores com hora para acordar na primavera é divertido e muito estratégico.
As cartas, além de beleza das artes, apresentam conteúdo imersivo e correlacionado ao tema base. As variedades de uvas apresentadas pelo jogo são encontradas e utilizadas na Toscana, adentrando de forma palpável ao enredo.
E não, não seria fácil colocar qualquer uva que daria certo. Existem mais de 5 mil variedades de uvas viníferas no mundo, existindo ao menos 50 variedades famosas e principais. Isso demonstra que houve trabalho, pesquisa, busca por uma interação correta. Essa construção cria um ambiente mais completo, melhora e muito a imersão do jogo.
Além disso, as uvas e os vinhos não utilizados na rodada maturam. Uma clara referência a uma das etapas mais importantes na vinicultura. Com todas essas referências corretas e bem utilizadas, o jogo torna-se agradável e conexo com o mundo, torna-se imersivo.
A arte complementa muito bem toda essa sensação e estrutura, dando o toque bucólico que a região da Toscana possui. Some a tudo isso a tensão causada pela corrida de pontos e o uso dos visitantes a cada rodada. Viticulture – Edição Essencial é um jogo (sem trocadilho) essencial em qualquer coleção!
Imersão BG
Findou-se mais uma coluna do Imersão BG e espero que tenham gostado. Deixe seu comentário, sua crítica e seu elogio. Nos encontramos na próxima semana, na terça feira, em um lugar tão bucólico quanto a Toscana. Com paisagens belas e disputas acirradas. Quem sabe não conseguimos ver o Nessie?
Abraços