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Publicado em setembro 28th, 2016 | por Rafa Almeida

Fear Itself. Horror pessoal e insanidade

Lançado originalmente em 2007, por Robin D. Laws. Fear Itself usa ideias simples com uma aplicação bem diferente e se torna um jogo de horror pessoal muito prático e divertido. O jogo já conta com duas edições e alguns suplementos disponíveis online.

Fear Itself é um jogo em que temos a chance de interpretar pessoas comuns em um mundo distorcido, pessoas que em um determinado momento de suas vidas são expostas ao horror e à violência, lançadas em um campo de guerra nefasto, se vendo obrigadas a enfrentar criaturas e perigos terríveis. Assim como em jogos como Call of Cthulhu, Mundo das Trevas e até alguns board games como Eldritch Horror, Pandemic: O Reino de Cthulhu e muitos outros.

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As ilustrações do livro são cheias de detalhes, deixando a experiência mais interessante

A novidade está na forma como é abordado esse horror. Fear Itself foi criado como uma plataforma simples e rápida de horror pessoal one-shot (uma aventura), ou seja, aventuras cruéis e brutais que tem começo, meio e fim durando apenas uma sessão de jogo. Para isso, é empregado um sistema simples e de fácil aprendizado, utilizando situações comparativas do jogo com filmes de horror famosos, o que facilita a resolução de ações e conflitos para o mestre, pois estas cenas funcionam mais ou menos como jurisprudências e isso vale também para os jogadores.

Uma dessas regras baseadas no cinema é a inclusão de fatores de risco (Risk Factors) no conceito do personagem durante sua criação. Com isso podemos adicionar motivação aos personagens e diminuir o excesso de horror, que pode acabar ficando forçado em jogos do gênero, tornando a interpretação menos cansativa. Afinal de contas, quantas vezes quando estamos assistindo a um filme de terror em casa acabamos dizendo: “eu nunca entraria ali”, ou “eu nunca sairia de casa assim sozinho”. Alguns jogadores, para que uma aventura aconteça, deixam de lado suas preocupações, mas com os fatores de risco isso não é necessário.

Resumindo, os fatores de riscos seriam defeitos descritos em uma palavra. Por exemplo: curiosidade, cobiça, coragem desmedida, prepotência e entre tantos outros. Assim, quando uma situação no jogo for apresentada, o seu personagem tem que agir de acordo com o seu fator de risco, ou seja, ele se coloca em risco devido a sua personalidade.

Outra novidade presente no sistema é a maneira como a investigação ocorre. Inicialmente, em sistemas que conhecemos, o objetivo é explorar salas, vencer monstros e encontrar pistas ou itens necessários para continuar progredindo. Em Fear Itself o foco não está em encontrar pistas, mas sim em interpretá-las, entender o que está acontecendo e lidar com o que o grupo tem nas mãos. Imitando também os Thrillers de terror, as pistas caem praticamente no colo dos personagens. Mas é necessário uma investigação para entendê-las e descobrir como isso poderia salvar suas vidas.

Os personagens em Fear Itself são construídos de uma maneira curiosa, pois não existem atributos ou similares. Apenas devemos escolher um estereótipo e conceito, assim como o fator de risco e outros detalhes simples. Trata-se de uma versão light do já conhecido sistema GUMSHOE, originado em Esoterrorists. Todos os testes são realizados utilizando apenas perícias diversas, em que alocamos pontos que equivalem a um dado disponível para o teste. São utilizados dados comuns de seis faces (D6), que são rolados contra uma dificuldade estipulada pelo Mestre de acordo com a situação. Outro fato que realça o aspecto one-shot do sistema, é a maneira como a quantidade inicial de pontos é estipulada: baseada no número de jogadores que participarão da sessão – quanto mais jogadores, menor a quantidade de pontos.

A saúde mental do personagem (muito importante em jogos deste gênero) é medida através da perícia Stability, que é utilizada também para testes, como uma versão simplificada da Sanidade em Chamado de Cthulhu. Simples e funcional. Apesar de não fornecer tantos detalhes ou possibilidades quanto regras mais apuradas de outros sistemas, cumpre bem o seu papel.

Pode-se dizer que Fear Itself serve de forma excelente ao que se propõe, que é basicamente um sistema de horror pessoal simples e ágil, para aventuras terríveis e cruéis de terror. A novidade da inclusão de cinema é incrível, as ilustrações são muito bonitas e trazem o clima de horror do jogo, além de introduzir algumas ideias que funcionam muito bem. Um ponto negativo é que o cenário é precariamente desenvolvido e não existem muitas criaturas, tornando o jogo repetitivo. Porém, é claro que mestres podem sempre desenvolver cenários, e criaturas. As inspirações são inúmeras desde “Tomates Assassinos” ao terror psicológico de “The Devil’s Rejected”. Tudo é possível.

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Imagem de capa da segunda edição do livro

Espero que vocês curtam! É uma nova opção para quem curte essa nova “Cthulhização” que vem acontecendo. É um sistema simples, para amigos sentarem e jogarem uma aventura sem se preocupar com campanhas. Joga quem está na mesa. Os personagens são criados de modo bem rápido e a diversão é garantida. Tente sobreviver!

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Um sucesso decisivo a todos e um bom jogo!

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