Publicado em abril 18th, 2018 | por Emmanuel Deodato
Imersão BG: Rajas of The Ganges
Você se senta com seu tio avô (homenagem velada) para bater um papo e ele pergunta: assistiu Caminho das Índias? Ficou perdido? Não sabe a diferença do Raja e do Ganges? Seus problemas acabaram!
Vamos conhecer um pouco mais sobre a história da Índia e da mitologia Hindu em Rajas of The Ganges. Um jogão do aclamado casal de designers Inka e Markus Brand (conhecidos por Village e a série Exit) chegando aqui pela Devir.
Aqui iremos explorar um pouquinho da história dos ícones indianos citados e utilizados no jogo. Também falaremos sobre a mitologia Hindu e suas aparições no tabuleiro. Então arruma sua poltrona e boa leitura.
Rajas, Ranis e Koothrappali
Como diria o sábio: vamos começar pelo começo. Em Rajas of The Ganges iremos nos colocar na figura de Rajas ou Ranis (termo feminino)Nosso objetivo é melhorar nossas propriedades, transformando-as em magníficas e ricas províncias.
Para isso, devemos equilibrar nossa vida (e ações no jogo) em uma interação constante entre prestígio e prosperidade econômica. Um equilíbrio difícil, mas que leva o jogador à glória máxima.
Mas bem, o que é um Raja ou uma Rani? Raja é o termo utilizado para referenciar aos reis e governantes no analisado país. Não confundir com rajas da mitologia Hindu relativo a um dos três Gunas.
Assim, nossa jornada começa com os jogadores se tornando Rajas, reis de suas províncias.
Império Mogol
Na abertura do manual somos direcionados a um período histórico para nossa jogatina: o Império Mogol. Muito importante, não confundir com o Império Mongol.
Esse Império existiu entre 1526 e 1857, com uma leve pausa entre 1540 e 1555 Ele chegou a dominar quase que inteiramente o subcontinente indiano. A nomenclatura é derivada do famoso império mongol. Representa a ascendência direta do fundador desse império, Babur em relação ao renomado Gengis Khan.
Essa data de início corresponde à vitória de Babur contra o último sultão de Déli, Ibrahim Lodi, na primeira batalha de Panipat (1526). O império se tornou extremamente instável durante o governo de Humayun (filho de Babur). Isso trouxe como consequência, a fuga do imperador para a Pérsia e uma interrupção no império Mogol pela Dinastia Suri, entre 1540 e 1555.
Em 1555, Humayun retorna de seu exílio na Pérsia e reinstala o Império Mogol com grande êxito. Entretanto, morre em sequência a essa conquista. Assume então um dos mais famosos imperadores, Akbar, o Grande filho de Humayun.
Durante o governo de Akbar, o Império Mogol atingiu seu ápice, em expansão, glória e riquezas. Intensificou o comércio e as relações com a Europa, e se tornou um líder carismático.
Foi ao longo do Império Mogol que grandes avanços arquitetônicos e científicos foram construídos na Índia. Incluindo aqui o Taj Mahal, o Forte Vermelho e o Forte de Agra.
Ao longo de 1700, o império entrou em declínio e essa derrocada foi sendo intensificada. O que culminou em 1857, com o controle quase total do império pela Companhia Britânica das Índias Orientais. Aí sacramentou-se a queda do último imperador.
Localizando historicamente nosso período e sabendo que somos Rajas, podemos seguir com outras informações e referências.
O rio Ganges continua lindo
Talvez um dos rios mais icônicos do mundo e com toda certeza um dos principais rios do subcontinente indiano. Logicamente estamos falando do Rio Ganges.
O Ganges e todos os seus afluentes abrangem um território de aproximadamente um milhão de metros quadrados. Ele possui cerca de 400 milhões de habitantes em suas margens.
Não apenas pela importância econômica ou hidrográfica, o Ganges é também cultuado por sua relevância religiosa. Em suas margens se encontra a cidade de Varanasi, contemplada por muitos como a cidade mais sagrada do hinduísmo. Citações ao Ganges e sua influência religiosa constam do Rigveda, o mais antigo veda do hinduísmo (1700 – 1100 a.C.).
Costumeiramente banhando corpos ou recebendo cinzas de entes cremados, o Ganges possui uma importância no ambiente religioso, indescritível. Para algumas pessoas é necessário ter entrado ao menos uma vez nesse rio. Pois ele simboliza uma divindade, que representa um conjunto antigo de tradições.
Em suas margens ocorrem também alguns dos festivais mais importantes para os hindus. Como o Kumbh Mela e dezenas de outros que acontecem em Varanasi.
Entretanto o famoso rio vem lutando contra a poluição. Desde a década de 90 a poluição no rio tem atingido níveis alarmantes. Cenário intensificado pelo aumento considerável de esgotos jogados diretamente no rio.
Outro problema ecológico constante no rio se dá com a cremação dos mortos à suas margens e descarte de corpos. Nos últimos anos o governo indiano investiu em diversos projetos na tentativa de melhorar a qualidade do rio e de seus afluentes.
Os esforços atuais tentam manter vivo não apenas o rio, mas toda sua mitologia e tradição dentro do cotidiano indiano.
Arquiteturas icônicas
Anunciado em 2007, como uma das novas sete maravilhas do mundo, classificado pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. Sim, estamos falando dele, o incrível Taj Mahal.
Ele foi construído entre 1632 e 1653, por ordem do imperador Shah Jahan. A história explana que sua esposa faleceu logo após o nascimento de seu 14º filho. Desolado, o imperador ordenou a construção do monumento em homenagem à sua esposa favorita. Mas, o jogo ainda faz referência a outra construção famosa, o Forte Vermelho.
O Forte foi construído na região conhecida como velha Déli, durante o século XVII. Teve sua obra ordenada também pelo imperador Shah Jahan, que desejava alterar a capital do império, até então em Agra. Ao todo, o complexo possuía mais de 11 palácios dentro de suas paredes.
Localizado dentro do Forte, estava uma das mais extravagantes construções do imperador Shah Jahan: um trono em formato de pavão. Ele havia sido construído inteiramente de ouro e decorado com pedras preciosas e pérolas. Sua construção levou mais de sete anos e estima-se que seu custo tenha sido superior ao do próprio Taj Mahal. Mas, ao longo do século XVIII, o Forte fora invadido e saqueado, tendo sido levado o trono.
Mitologia hindu
Impossível aprofundar a história da mitologia hindu nessas poucas palavras. Afinal, estamos falando de uma das mais antigas mitologias do mundo.
A mitologia hindu está fundada nos Vedas, os livros sagrados. Tudo se inicia com a Trimúrti: a manifestação tripla da divindade suprema, sendo Brahma, Vishnu e Shiva. No jogo temos a referência direta à deusa Kali. Ela segura nossos dados com seus oito braços (a representação tradicional contendo quatro braços apenas).
Dessa imagem já observamos uma suavização da imagem mais tradicional da deusa. Geralmente sua representação segura armas e uma cabeça decepada, além de ter um colar de crânios ou cabeças. Apesar da apresentação forte e do estilo serial killer, a deusa representa a morte. Parte importante da vida, sendo elemento chave na reencarnação dentro dos escritos.
Rajas of The Ganges: um caminho de descobrimento
Bem, à primeira vista, logo que abrimos o tabuleiro temos um boom de cores e informações. Quase como o festival de Holi: muitas cores que parecem não fazer sentido algum. Mas conforme você vai analisando, vendo as formas, entendendo as ações, tudo se revela em um belo quadro.
A imersão está ali, talvez não tão presente nas ações e mecânicas, mas é perceptível. O rio Ganges com toda sua importância corta o tabuleiro inteiro, quase como sua representação real. É possível se sentir como um governante à medida que sua província cresce diante dos seus olhos.
Tudo isso dentro da mecânica de pontuação interessante: é preciso equilíbrio. Se você constrói muitos mercados na sua província ela será rica, mas te dará prestígio suficiente? Se focar apenas nas construções terá muito respaldo popular, mas conseguirá ter dinheiro?
É preciso equilíbrio e, durante todo esse percurso, a deusa Kali irá guardar seus dados. Sejam eles bons ou ruins.
Considerações finais: é a onda do Raja
Rajas of The Ganges está chegando logo mais pela Devir e precisamos dizer: ainda bem. Como Village, Rajas apresenta mecânicas estruturadas e coordenadas por um sistema de pontuação não apenas inovador, mas temático.
O ponto base de todo o jogo é ter equilíbrio em suas duas trilhas e seguir com um plano bom de recursos. Ficar sem dados nesse jogo irá te atrasar muito. Eu digo muito, mesmo.
É um jogo que ora utiliza a importância numeral dos dados e ora a sua cor. Mas não se engane, apenas algumas ações serão beneficiadas por números menores. Para construir, quanto maior o número melhor. Fica mais fácil de adquirir a peça correta para sua província.
Abra o belo tabuleiro, chame o pai e a mãe para jogar. Explique para eles que 400 milhões de pessoas moram à beira do Ganges e pronto. Mais um dia de alegria para todos! Cuidado apenas em acelerar demais o jogo na frente da patroa, as consequências podem ser desastrosas.
No final, o que vai valer não é o ponto de cruzamento dessa corrida, mas a forma como você construiu e contemplou a Índia para chegar lá.
Imersão BG
Obrigado a todos que acompanham nossa coluna! Na próxima semana iniciamos um especial que ocorrerá na última terça do mês. Falaremos de um período histórico dentro do maior (e melhor) jogo de civilizações!
Abraços a todos!