Publicado em abril 29th, 2016 | por Tábula Quadrada
Tábula entrevista: Marcos Macri da MS Jogos
E aí, galera! Tudo legal? Hoje teremos uma forma diferente de post. Realizamos uma entrevista com o Marcos Macri da MS Jogos, que nos contou um pouco da sua da sua experiência como game designer, seus jogos favoritos e falou um pouco sobre os próximos lançamentos e relançamentos (Dogs e Viagem no tempo que estarão à venda na próxima segunda-feira). Entre as novidades, Marcos nos falou sobre Chaparral, previsto para setembro e o próximo jogo. Curiosos? Esperamos que você curta a entrevista.
Tábula Quadrada: Marcos, como você entrou no mundo dos board games?
Marcos Macri: Eu sou totalmente apaixonado por jogos de tabuleiro desde criança. Com oito anos de idade, eu já guardava todo o dinheiro que ganhava dos meus avós e do meu pai para depois comprar revistinhas na banca de jornal, que traziam jogos para montar. Na adolescência, lá pelos anos 80, cheguei a ter quase todos os jogos de tabuleiro lançados no país pela maior indústria de brinquedos da época. Depois, na fase adulta, descobri os jogos de tabuleiro “modernos” (europeus e americanos) e ao perceber a evolução das mecânicas e a variedade de temas, renovei 100% meu gosto e interesse pelo mundo dos jogos analógicos.
TQ: Quando surgiu a vontade de fazer seus próprios jogos? Como descobriu esse talento?
MM: Surgiu na infância. De modo intuitivo e totalmente espontâneo. Eu sentia vontade de jogar e na mesma proporção, também sentia vontade de “inventar” meus próprios jogos. Na adolescência cheguei a concluir alguns jogos, para jogar com a família e amigos, mas com os atropelos naturais da vida, esse material se perdeu. Depois tive uma interrupção no hobby. Enveredei pelo caminho das Artes Cênicas e da Mágica profissional. Fiquei alguns anos afastado dos tabuleiros. Quando retomei o contato com os jogos modernos, mais especificamente com os jogos de estilo europeu, explodiu naturalmente dentro de mim a necessidade de colocar em prática minhas ideias e a partir daí surgiram vários projetos.
TQ: Quais foram os primeiros jogos que você desenvolveu, sobre o que era?
MM: Bem, um dos primeiros jogos que desenvolvi, de modo mais sistemático e contínuo, que cheguei a finalizar inclusive, no ano de 2008, foi o Estação Espacial Internacional. Um euro para 2 a 5 jogadores, com duração média de 2 horas. Nele, o objetivo é construir as partes que compõe a E.E.I., enviá-las ao espaço, e por meio de astronautas capacitados, instalar essas partes no eixo base da estação. Quem cumpre essa tarefa de modo mais eficiente, marca mais pontos e vence o jogo. Ele foi produzido? Não, não foi (risos), pelo menos não até agora! Em 2008, as opções de editoras de jogos de tabuleiro no Brasil eram quase zero. O E.E.I. não chega a ser um “moster game”, mas possui muuuuitos componentes e peças que exigiriam facas customizadas. Hoje, depois de produzir e lançar 11 jogos pela MS Jogos, entendo perfeitamente a dificuldade de se produzir um jogo com essas características.
TQ: Pra você o que é mais importante na hora de criar um jogo: mecânicas, tema ou diversão?
MM: As três coisas são importantes. Quanto mais integradas estiverem, maiores são as chances de sucesso do jogo no mercado. Atualmente os designers estão muito atentos à sinergia, ao equilíbrio entre tema e mecânica, de modo que excelentes jogos, híbridos eu diria, estão disponíveis no mercado. Com relação ao conceito de diversão, penso que um jogo de tabuleiro para ser “divertido”, não precisa necessariamente fazer as pessoas darem risada o tempo todo, como se estivessem num espetáculo de stand up comedy. Jester por exemplo, que a MS lançou em novembro e recebeu o prêmio Ludopedia 2015 – Jogo do ano Design Nacional. Ele nos trouxe um feedback muito positivo dos próprios jogadores, dizendo que embora ele seja um jogo de estratégia, cheio de detalhes e pontuações, com um certo nível de complexidade, ele é também muito divertido de se jogar.
TQ: Qual é a sua dica para quem pensa em criar jogos?
MM: Bem, vou repetir aqui o que já disse em outras entrevistas. O aspirante a game designer precisa “conhecer” e jogar muitos e muitos jogos. De preferência jogos dos mais variados estilos, temas e mecânicas. Não apenas os modernos, dos anos 2.000 para frente, mas também os mais antigos. Porque é jogando e experimentando esses jogos, que ele irá estimular a sua própria percepção de estilo, imaginação, criatividade e senso crítico, de modo que assim ele terá maior embasamento e referências na hora de desenvolver um projeto.
TQ: Sobre os relançamentos, o que levou você a reformular a arte de Dogs e Viagem no Tempo? Foram feitas outras mudanças?
MM: Em relação ao Dogs, apenas a arte da caixa foi alterada. Nós mudamos o traço e o estilo da cena ilustrada. A arte dos demais componentes permanece inalterada. A MS optou por reeditar a primeira edição, onde só existem raças de cães, pois a demanda para ela sempre foi maior do que em relação à segunda edição, na qual outros animais foram introduzidos.
Para o Viagem no Tempo, a reformulação foi um pouco maior e mais ampla, pois mexemos na mecânica do jogo e não apenas na arte. Nosso objetivo foi torná-lo um pouco mais ágil e rápido, para atender também a uma demanda de jogadores mais casuais. Ambos estarão disponíveis a pronta entrega a partir do dia 02 de maio, através do site da MS Jogos.
TQ: Qual dos seus jogos lançados são os seus preferidos?
MM: Essa realmente é uma pergunta difícil. É como perguntar a um pai de qual dos seus filhos ele gosta mais. Comigo não tem jeito. Sou um designer totalmente passional, apaixonado pelo que faço. Eu me apego mesmo às minhas criações, especialmente depois de publicadas. Mas para não deixar a pergunta sem uma resposta mais concreta, vamos dizer que eu sinto um apreço especial pelo primeiro jogo lançado pela MS, o nosso jogo de estreia, em 2012… Gran Circo. Lembro perfeitamente da fase final do desenvolvimento, quando eu ficava acordado até de madrugada, jogando Gran Circo sozinho no computador.
TQ: E Chaparral, o seu próximo lançamento, o que pode nos contar sobre ele?
MM: Chaparral é um euro no velho oeste, para 2 a 4 jogadores, com mecânica principal de alocação de trabalhadores. Ele sairá em setembro deste ano pela MS. O design foi concluído e agora estamos na fase de produção da arte, que será assinada pelo meu amigo Diego Sanchez, que já ilustrou vários jogos meus por sinal, como Aquarium, Jester, entre outros. Embora seja um euro, a vitória não se dá através de pontos, mas sim através de cartas de objetivos conquistados. Ele tem um nível de complexidade semelhante ao Jester, embora suas mecânicas sejam muito diferentes e a verificação do vencedor no fim da partida seja muito rápida, hehe! Chaparral passou por mesas de playtest em vários grupos, com jogadores de vários estilos, durante meses e isso permitiu um processo mais eficiente de refinamento e balanceamento do jogo. Estamos confiantes e ansiosos aqui na MS por mais este resultado e pela publicação em setembro.
TQ: O que os fãs da MS Jogos podem esperar dos próximos lançamentos?
MM: Bem, este ano a MS completa quatro anos de existência em maio. Apesar da instabilidade política e econômica que o país atravessa, nós arregaçamos as mangas e planejamos um cronograma maior de lançamentos para 2016. Viagem no Tempo e Dogs em maio, Jester em julho, Chaparral em setembro, e se tudo correr bem, mais um relançamento e mais um título inédito em dezembro, o que dará um total de seis publicações este ano. Ainda não posso entrar muito em detalhes, mas só para aguçar a curiosidade dos nossos amigos, fãs e clientes, este novo título (inédito), o n° 9 da Coleção MS, previsto para dezembro, é um projeto antigo, que ganhou força agora. Um euro para 2 a 5 jogadores, numa categoria mais próxima do “family game”, com tema de piratas, e o título provisório é Capitão Flint.
Muito obrigado aos amigos da Tábula Quadrada pela oportunidade desta entrevista e um forte abraço, com muitas jogatinas, a todos que acompanham o site.